Um astrônomo brasileiro radicado no Chile e sua equipe da Universidade de La Serena descobriram duas estrelas novas, muito maciças, brilhantes e aparentemente isoladas na Via Láctea.
Essas características fazem desses objetos (batizados de WR20aa e WR20c) astros extremamente raros na galáxia.
Os astrônomos estimam que as estrelas tenham até 2 milhões de anos (jovens, em termos astronômicos).
Além disso, as estrelas podem ter, cada uma, pelo menos 80 vezes a massa do nosso Sol --o que também não é muito comum encontrar.
"A galáxia pode conter vários bilhões de estrelas, mas a maioria tem massa pequena", diz o físico e astrônomo Alexandre Roman Lopes, coordenador do trabalho.
O que os cientistas não esperavam era encontrar essa dupla de estrelas isolada na galáxia. Como esse tipo de estrela vive pouco (alguns milhões de anos), em geral elas não têm tempo de se distanciar de onde se formaram.
Isso resulta em aglomerados de estrelas na galáxia, próximos à sua "fábrica".
Essas "fábricas" funcionam no interior de enormes aglomerados de gás e poeira onde, sob efeito da força gravitacional, acontece a concepção estelar.
Por estarem muito longe do local de origem, a dupla é candidata a "runaway", ou seja, objetos estelares que viajam a uma grande velocidade e se distanciam cada vez mais de onde nasceram.
Os pesquisadores acreditam que a dupla tenha sido ejetada de um superaglomerado de estrelas de altíssima massa chamado Westerlund 2, que fica na direção da constelação de Carina, a cerca de 26 mil anos-luz do Sol.
No centro desse aglomerado, existe um grupo compacto de estrelas muito brilhantes onde são observadas nuvens de gás remanescente do seu processo de formação.
Eles descobriram que uma linha imaginária conectando as duas estrelas "cruza" o aglomerado exatamente na sua parte central. Isso significa que elas devem ter saído de onde está o "berçário" dos objetos de grande massa.
"Estudos de dinâmica estelar preveem que estrelas de massa muito grande não convivem bem entre si. Algumas sempre acabam expulsas pelas companheiras", explica.
O trabalho, que tem apoio do Observatório Las Campanas e do ESO (Observatório Europeu do Sul, na sigla em inglês), estará na "MNRAS" ("Monthly Notices of the Royal Astronomical Society") do mês de setembro.
O estudo das estrelas supermaciças, além de contribuir para a compreensão da formação estelar, pode ajudar a explicar a origem da vida. Essas estrelas produzem, no seu interior, oxigênio, carbono e nitrogênio, e no fim da sua evolução, até ferro.
"Os elementos mais complexos necessários à vida são produzidos por estrelas maciças. De certo modo, somos filhos desse tipo de estrela", diz Lopes.
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